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Sobre a falta de amigos em tempo de amores

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1067156_bdb2_625x1000É de certo modo natural e compreensível que as relações pessoais de intimidade entre dois seres humanos possam levá-los a uma maior concentração um no outro, remetendo para planos mais secundários as relações de amizade ou mesmo familiares. O que não é, todavia, desejável, é que as relações pessoais de intimidade, entendidas como enamoramentos ou casamentos, funcionem como autênticas esponjas que sugam a totalidade do tempo, da energia e da motivação para elas.

Esta atitude é particularmente dramática se pensarmos na fragilidade das relações, regra geral. Imaginar um casal que enquanto a relação dura só vive para e entre si, fazendo da sua vida uma órbita exclusiva sobre sua suposta cara-metade, é equivalente a poder encontrá-lo mais à frente muito aflito porque a relação deu para o torto ou simplesmente já não satisfaz, e a sua vida está inquinada em termos das demais frentes relacionais em que se espera que um ser humano se desenvolva.

A respeito deste assunto, julgo ser relevante atacar de algum modo a ideia de que “é nos momentos maus que se vê onde estão ou quem são os amigos”. Faço-o porque me parece que este não é assunto ideal para esta frase feita, já que é demasiado acusatória dos outros e reserva pouca margem para reconhecermos as consequências das nossas próprios decisões a respeito das amizades. Quero com isto dizer que não me parece de todo justo que num casal que viveu só para si mesmo enquanto a relação durou, haja legitimidade para criticar a falta de apoio dos amigos quando a relação passa por dificuldades: essa falta de apoio resultará porventura mais de nós próprios do que dos amigos em si.

Há, depois, o reverso da moeda, concretizada pela existência do caso oposto: pessoas que partem para as relações pessoais de intimidade tendo por base um grupo de amigos consolidados, que serve de âncora ou de apoio à descoberta da relação. Também aqui as coisas podem não ser saudáveis, sobertudo porque a intimidade exige alguma exclusividade.

2 comentários:

  1. Caro Marcelo Melo
    a abertura ao mundo de uma relação a dois (homem e mulher- entenda-se, que isto hoje em dia é preciso ser muito bem explicado)está na relação directa com a idade que se tem. Na juventude é tudo fogosidade. Depois o recato, a tranquilidade, começam a ganhar terreno. O mundo existe para ser partilhado, mas tenho por convicção que por vezes, quando a partilha é exagerada, e se o casal não tem laços afectivos fortes, corre-se o risco de dissolução. Uma má influência pode ser fatal- um fatalismo que não existirá se o casal encarar a separação com naturalidade. Aliás, se bem me recordo, o Marcelo já tocou nesta matéria uma vez, o que achei deveras interessante. Tudo na vida tem um tempo e um espaço. e a amizade é um bem precioso que a nem recomendo que a aniquile do seu modo de vida.
    O seu novo visual deixou-me estupefacto.

    Com amizade, um grande abraço.

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  2. Caro Poeta do Penedo,

    Compreendo e aceito o seu ponto de vista.

    Talvez o aspecto crucial do meu texto resida nessa relação directa com a idade que se tem. Escrevi a reflexão a pensar sobretudo na malta jovem e no me parece que a caracteriza.

    Se tivesse escrito o texto tendo em mente outras faixas etárias, talvez tivesse abordado pontos diferentes sobre este assunto, como por exemplo, a forma como a espansão da família (filhos, netos, sobrinhos, etc) pode diminuir a necessidade da rede social de amigos nos casais, com o desenrolar do tempo.

    De igual modo, talvez reflectisse ainda sobre a forma como os casais amigos podem compensar a falta de expansão familiar que a queda da natalidade tem vindo a provocar. (uma família que é só marido e mulher terá cporventura mais lacunas sociais do que uma família que contemple filhos).

    De qualquer modo, fez bem em assinalar essa variável importante que é a idade do casal.

    Marcelo Melo

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