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Sobre a polícia e a sua autoridade

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Parcas são as dúvidas que sobram quando sobre determinada questão se obtém um inesperado incidente que põe a nu arestas que à partida se poderiam sobre ele pressupor. Sucintamente, é assim que se pode resumir o que se passou comigo quando visitei o posto da polícia local no sentido de acompanhar alguém que pretendia apresentar uma queixa respeitante a um furto de bens ocorrido num comboio.

Escolho principiar esta reflexão recordando uma ideia feita que provém da minha formação de criança, na qual se dizia que o polícia era a lei ou a autoridade, e que como tal merecia ser respeitado acima de tudo o resto. Pois bem, quando entro numa esquadra e encontro polícias quase deitados num sofá, que reencaminham os cidadãos para um colega numa secretária apenas com um acenar de polegar, eu pergunto-me se aquela imagem é a imagem ideal da autoridade. (Pergunto-me ainda se é aceitável que haja polícias barrigudos e fisicamente quase inertes). Foi porém o dito colega da secretária que me chocou e me deu vontade de gritar. No lugar de se concentrar no roubo que estava a ser com ele partilhado, concentrou toda a sua energia em criticar o revisor do comboio e o que havia dito à vítima do crime. Notei no polícia uma atitude preconceituosa para com o revisor e não fosse a insistência dele nessas críticas talvez tivesse ignorado esse ponto. Quando nem o número do comboio em que se passou o delito o polícia foi capaz de obter, quer pelo telefone como pelo computador com ligação à internet, concluí que aquele homem silenciosa e passivamente nos implorava para que nos fôssemos embora, porque ele nada poderia fazer. Acompanhou-nos à saída a fim de fumar um cigarro, enquanto o outro polícia, o gordo, continuava deitado no seu sofá naquele fim de tarde de sexta-feira.

Perdoem-me os bons polícias que existem e que são dignos dessa profissão, mas não posso pactuar nem consentir que a autoridade de uma sociedade se personifique em actos de negligência e passividade doentia ou que ao terror de ser alvo de um assalto possam acrescer os preconceitos e raivas internas de um agente que depois nada faz no sentido de colaborar com o cidadão. Este tipo de comportamento é um voto a favor do ladrão e da criminalidade, e foi isso que me perturbou verdadeiramente.

Com o país comprometido por uma falta de justiça cabal e célere para o século em que vivemos, a constatação de que nas forças policiais pode existir uma filosofia de piloto automático ou auto gestão que promove a inércia e porventura esconde o medo de actuar e de combater a criminalidade, revela a triste sina deste país e da nossa democracia. Somos um país onde a força dos resignados ameaça bloquear os pequenos espasmo reformistas dos que não se revêm na incompetência de cunhas que predomina.

1 comentário:

  1. Meu caro Marcelo Melo
    Este país funciona muito mal, e pior acontece quando certos profissionais, independentemente da área a que pertencem, passam uma imagem de incompetência, manchando assim o trabalho de outros seus colegas, que, no seu quotidiano profissional, se esforçam por melhorar a imagem da instituição a que pertencem, já de si, por natureza, tão opaca e incompreendida, sendo os incompetentes mantidos nesses serviços de atendimento,de características muito particulares, sem que esses comportamentos sejam detectados por quem de direito- a hierarquia.
    Além de um atendimento direccionado ao sentimento de insegurança que a vítima estaria a viver, incutindo-lhe alguma dose de conforto, suponho que o agente que recebeu a queixa nada poderia fazer no sentido de, ali e agora, fazer funcionar o sistema para que os artigos roubados fossem devolvidos e o ladrão identificado, a não ser preocupar-se em gerar confiança na pessoa que estava à sua frente, explicando-lhe que a queixa que estava a ser apresentada iria ser canalizada para o sector próprio- a investigação criminal, decorrendo daí um inquérito. O agente que efectuou o atendimento nada poderia fazer, mas outros, que se lhe seguiriam no trabalho, talvez pudessem. Esse deveria ter sido o seu trabalho no momento da apresentação da denúncia. Teria, por certo, avançado um milímetro no melhoramento da tal imagem.
    Um milímetro para a frente é melhor do que meio metro para trás.
    Com amizade.

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