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Sobre nobres razões não-monetárias para se manter um blogue, e a turbidez mental ocidental na utopia do lucro

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Na qualidade de blogger há mais de uma década, manifestei-me recentemente em fórum próprio contra uma forte tendência que leva inúmeras pessoas a quererem iniciar ou avaliar blogues tendo como principal mote a monetização dos mesmos e a propiciação de lucro com a atividade de publicar. O meu insurgimento resultou de me parecer haver uma autêntica avalanche de expectativas capitalistas e de começar a ser difícil preservar na memória colectiva que é possível e legítimo ter projetos editoriais pessoais sem que o sucesso ou continuidade destes tenha de ser afinado pelo diapasão dos retornos monetários.

Nessa mesma crítica, invoquei quatro missões não-monetárias passíveis de ser abraçadas em qualquer projecto pessoal, a saber: fazer trabalho voluntário; ser um educador/pedagogo; promover a cidadania ativa; e constituir uma fonte de inspiração para os outros. Apesar de poderem ser conciliadas com formas de monetização (fica ao cuidado e critério de cada um), a aposta numa ou várias destas quatro missões remete o esforço e a dedicação para domínios nobres e porventura intangíveis, capazes de tranquilizar aquele que publica relativamente ao seu contributo para a comunidade, e de o motivar a perseverar independentemente dos caudais de leitores e seguidores que granjeie.

É que na base desta distorção das coisas está uma febre por lucro que vamos encontrar hoje como esteio primordial do pensamento ocidental: uma espécie de simbiose capitalista e tecnológica, que se alimenta de progresso na busca do Santo Graal do sucesso económico enquanto sinónimo de felicidade. Nesse rumo, como que o sucesso económica nos salvará das maleitas mundanas, dos outros e seus planos, e de nós mesmos (emocional e intelectualmente falando). Pelo meio definham formas de estar nobres, sadias, e poderosas, que desde os primórdios da humanidade nos acompanham e fazem felizes, e que muito pouco têm que ver com o tilintar de moedas ou com o imprimir de extratos bancários.

3 comentários:

  1. Boa noite Marcelo. Nesta miserável sociedade materialista em que nos tornámos, quase que é uma blasfémia alguém fazer algo por puro prazer, que não seja com o objectivo do lucro. O seu blogue continua a ser uma benção de reflexão e pensamento. Estimo-o por isso. Os meus cumprimentos.

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    1. Meu caro Poeta do Penedo,

      Agradeço-lhe o reconhecimento e o incentivo.

      Fico contente de o ver subscrever esta mensagem, porque hoje em dia está cada vez mais difícil libertar as pessoas do mote "não só de dinheiro vive o homem".

      Não se trata de um apelo à maior ociosidade ou à desistência de lutar para se singrar na vida, antes um contrabalançar do status quo crescemente dominador, ancorado num ideal superior de equilíbrio espiritual extra materialidade.

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  2. Estou consigo plenamente. Há algum tempo, algures, li que «dinheiro é energia». Tenho pensado nisso muitas vezes. Mas que raio de energia será essa? Benéfica? Maléfica? Talvez o seu significado se ligue com a forma como o dinheiro, ganho através dela, venha a ser aplicado. É que conheço tanta gente intelectualmente desértica, de uma aridez de pensamento atroz, que, no entanto, têm uma enorme capacidade para fazer dinheiro. Não é que eu tenha algo contra o dinheiro, mas do materialismo apenas quero o suficiente para viver. Talvez por isso cada vez me seja mais difícil compreender esta nossa sociedade. Cumprimentos velho companheiro.

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