My Mind is an Empty Glass - James Rosenquist (1994)
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O livro Blink, do criativo pensador Malcolm Gladwell, consubstancia em prosa muitas experiências e pistas que vamos tendoavulsamente ao longo da vida, e que convergem na seguinte hipótese: tanto podemos ser traídos pelas primeiras impressões/instinto sempre que não estamos no contexto certo para confiar nelas, como o podemos ser quando formamos grandes teorias racionais sobre o que sucede à nossa volta e desligamos de pequenos sinais efetivos, pertinentes e puros que a vida nos é capaz de dar diretamente para perceber o que se está a passar.
Neste sentido, Blink fala de intuição sem nunca se ocupar do assunto na vertente religiosa ou espiritual. Prefere fazê-lo nos carris da ciência do inconsciente, na forma de múltiplos casos de estudo e especialistas que mostram que estamos 'biologicamente' preparados para tomar opções por impulso ("fatiando fino a realidade") e sem grande estudo ou aprofundamento. Pessoalmente, teria curiosidade de ver Gladwell a dissertar também sobre a intuição conforme entendida pela espiritualidade, ou seja: cruzada com conceitos como bênção, inspiração, iluminação, voz interior, etc. Não o tendo feito, a proposta do livro é de valor, mas nada diz sobre o modo como a fé ou o transcendente conseguem afetar a capacidade de se fatiar fino a realidade.
Blink consegue ser convincente a mostrar como o mecanismo de intuição é falível em situações onde a objetividade pode prevalecer, tais como a avaliação técnica de um candidato. Nestes casos, elementos como stress, ideologias, preconceitos ou condicionamentos socioculturais desviam-nos das melhores decisões. A ideia é particularmente bem demonstrada em relação aos estereótipos raciais e à igualdade de gênero, temas quentes no passado e presente dos EUA, abrindo também caminho a que o leitor reflita sobre os seus casos de erro de preferência pelo instinto ou negligência de análise mais cuidada em questões do quotidiano de natureza objetiva.
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