A leitura de Cândido, ou o Optimismo marcou a minha estreia a ler Voltaire. A experiência revelou-se prazerosa, e o travo que me ficou foi doce e divertido. A escrita é simples, o conteúdo enciclopédico, e o efeito satírico e mordaz. A impressão global é mesclada de pontos de contacto com outros autores e livros que li anteriormente, lembrando-me Júlio Verne e Machado de Assis apesar destes serem posteriores àquele em pelo menos um século.
O eco de Júlio Verne advém do facto de que Cândido é uma grande viagem à volta da terra (mas não ao centro da terra). E fá-lo idêntico espírito de aventura e de fusão entre a técnica e a natureza que se encontra naquele autor também francês. A relação com o brasileiro Machado de Assis sustenta-se pela esrutura do livro, com capítulos curtos em com títulos de capítulo sugestivos, como julgo ter encontrado em Memórias Póstumas de Brás Cubas, mas também pelo sentido de humor e balanço cuidado entre a erudição subjacente e a preservação de simplicidade na história. Sem paralelo com experiências pessoais anteriores é a ideia de ficcionar um sistema filósifico (Leibniz) e de provocar discussão com sistemas alternativos no decorrer da história, que se queria de amor mas é tudo menos que isso.
Para complementar, Cândido, ou o Optimismo fica-me na retina como um parque temático na forma de livro, uma espécie de liga das nações onde as diferentes nacionalidades e geografias do mundo se vão mostrando pelas suas características identitárias e efemérides históricas. Uma viagem que nutre e não cansa pelo culto à variedade e à congregação num mesmo plano narrativo de improváveis locais, pessoas e formas de viver.
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