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Sobre o livro 'O Deus das Pequenas Coisas' (Arundhati Roy), e uma história de amor trágica que intersecta variados pontos sensíveis daquilo que se entende como "a" Índia

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Curtain: Mojilal Manilal - Bhupen Khakhar (1992)


O livro O Deus das Pequenas Coisas, da escritora indiana Arundhati Roy, compreende uma trama de base simples mas riquíssima e criativa nos paralelos e contrastes que a adornam. Sem revelar demasiado, o livro conta uma história de amor entre duas pessoas de castas diferentes, e o desmoronar de uma família já de si disfuncional devido à convulsão criada pela consumação de um vínculo afetivo tido como proibido pela sociedade e famílias.

O que é diferenciado e valioso nesta história em particular, sobretudo para um leitor ocidental, é que toda a ação se passa no estado indiano de Kerala e abarca de forma mais do que generosa o caleidoscópio cultural, étnico, ideológico de que a Índia é feita. Basta ver que Roy congrega e confronta na história cristão sírios e hindus; o patronato e o operariado industrial; os movimentos político pró-marxistas (naxalitas); o legado britânico e formas de lidar com ele (valorizando-o ou desprezando-o); o racismo pela cor da pele entre concidadãos indianos; o sexismo masculino e a tolerância para com o assédio sexual na Índia. A lista poderia continuar com bastantes mais exemplos.

Para quem tenha curiosidade pela Índia e seu funcionamento O Deus das Pequenas Coisas é um inesperado manual de cariz ficcional, que vai desvendando uma história trágica de amor página após página, complementando-a progressivamente com elementos de contexto que servem diretamente como especiarias para o enredo (e qualidade do livro); e indiretamente como denúncia e crítica social. Sendo Roy arquiteta de formação, estamos perante uma obra de autor, de tremenda traça estética, e plena de intencionalidade nos pormenores.

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