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Sobre a releitura do livro 'Um Deus Passeando Pela Brisa da Tarde' (Mário de Carvalho) e uma magnífica história sobre um homem e sua consciência, no tempo dos romanos

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Glory - Megan Gabrielle Harris (2025)
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Não costumo deixar passar muito tempo desde o término da leitura de um livro até produzir um texto avaliativo dos méritos e defeitos desse livro. Neste caso essa demora ocorreu, mas ressalve-se que me prestei a avaliar uma releitura, o que para mim é situação inédita, pois tenho sido um leitor que não reincide nos livros, apenas nos autores. Algo que resolvi ser hora de inverter.

Pois bem, o livro 'Um Deus Passeando Pela Brisa da Tarde', do português Mário de Carvalho, é uma recriação ficcionada de uma cidade romana localizada na Lusitânia no segundo século do nosso calendário, assolada em simultâneo por dois males sociais: a ocupação ibérica pelos mouros a partir do sul; e a ascensão interna e disruptiva do cristianismo no seio da romanidade.

A história é francamente bela, pela fruição de uma escrita de qualidade, pelo contacto com a estética da própria civilização romana, e pela centralidade de uma personagem moralmente nobre: Lúco Quíncio, um magistrado local, declaradamente fã do imperador filósofo Marco Aurélio, e que parece ser o último bastião (ainda assim falível) na defesa dos mais altos interesses do bem comum. É de resto sobre o entendimento, cuidado e preservação do bem comum que mais versa a história, incluindo dilemas éticos, não sendo despiciendo ligar este tema ao facto do autor do livro ser licenciado em direito e portanto de muito interesse e referência lhe poder afigurar-se a herança romana em matéria de sistema de justiça.

Aquando da sua releitura o livro figurava já como um dos meus favoritos, e saiu reforçado desse estatuto. É um livro que merece mais ampla divulgação e discussão nacional, e parece-me muito útil como ferramenta para a formação em cidadania dos jovens, pois explora a importância de se ter consciência e empatia, bem como de adotar processos de autocrítica e autocontrolo, sejam pela sustentação em consciência de posições impopulares, seja pela necessidade de domar ímpetos emocionais enviesantes. A somar aos vários méritos do livro surge ainda o seu valor histórico, materializado por uma caracterização cuidada e pedagógica do império romano e da herança ibérica que fabricou.

Por sentir tudo isto sobre o livro vejo-me obrigado a recomendar a leitura e releitura desta magnífica história sobre um homem e a sua consciência, no tempo dos romanos.

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