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Sobre realidades nacionais

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Um dos problemas de quem formula uma crítica resulta no aproveitamento consequente que é feito, no sentido de ridicularizar por radicalização o argumento sustentador da posição expressa.
Aqui entre nós, portugueses, este efeito é a maior burocracia que se pode encontrar, pois retarda excessivamente a colocação em prática de qualquer medida.
Dizia-me há dias alguém, com a qual concordei, que o nosso problema nacional era a escassa profundidade mental que o cidadão comum tem em Portugal. Sendo essa pessoa estrangeira, pareceu-me um desabafo de quem convive num meio diferente daquele onde foi educada.
O fraco esforço intelectual dispendido por muitos de nós, torna-se depois um obstáculo para muitas outras questões do quotidiano, culminando em certos traços perturbadores. Em Portugal confunde-se discussão com zanga, há um estigma contra a educação, que é sintetizado na cómoda ideia de que instruir-se é só para alguns. O tal problema que mencionei acima poderia agora surgir, neste ponto da discussão, para que me fosse lançado o seguinte argumento: Mas então, deveriam os portugueses todos ouvir música clássica e discutir poesia nos autocarros? Não, claramente que não. Os portugueses deveriam era ser um povo que conseguisse discernir sobre as suas vidas, a ponto de não as moldar com argumentos falaciosos que impingem a crença de que sucessivamente se encontram no papel de vítimas e ostracizados, pelo Estado, pela patrão, pelos amigos, pela saúde.
Vivemos a julgar e a evitar culpa nos julgamentos a nosso respeito. Procuramos o consenso, engolindo, a custo de encontrar harmonia, a discórdia com a mentira.
Queremos ser empregados, pois fazemo-nos crer que ser patrão além de ser inalcançável é menos cómodo que sair às 17. Vivemos pelo cómodo. Estudar: incómodo, trabalhar: incómodo, esforçar: incómodo.

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