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Sobre a televisão: a contradição e a indeterminação

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Por muito pacífica e conciliadora que queira ser, a televisão não pode adoptar sistemática e permanentemente uma postura de total conformidade e sintonia pelas crenças, expectativas e fraquezas do grande público a que se destina. Isto serve quer para a televisão que tende a privilegiar o populismo, fazendo grandes investidas contra os governos e dando antena de sobra aos sindicatos e sindicalistas; mas também se destina a outra estações privadas, que quase representam uma força política em si, dado que se envolvem em tanta perícia que cultivam uma linha política própria. A partir do momento que temos uma televisão que longe de apelar a um contraditório capaz de lapidar os elementos factuais das notícias, promove antes um aprisionamento ideológico e metodológico que faz com que cada notícia se encaixe numa postura propositada e como tal previsível, acho que a televisão encerra o mal para os seus problemas.
Talvez este apuramento posicional da televisão, que a faz acrescentar muito mais à notícia do que desejável, seja uma consequência do modelo determinista em que vive e reproduz. Se não houvesse tanta energia gasta no isolamento, compreensão e justificação daquilo que se quer noticiar, talvez o espectador fosse deixado na sóbria e recomendável situação de procurar justificar, explicar e isolar a notícia, ficando quem noticia alheio a esses elementos, que são precisamente aqueles que conferem interferência e distorção da notícia. Apelo portanto a uma maior indeterminação noticiosa, centrada mais nos factos do que nos pareceres que conduzem à procura de factos específicos e que depois não se fazem acompanhar pela integridade da notícia, ficando esses recortes sob o jugo de alguém que lhe chama notícia mas que já mais do que notícia, é curta-metragem. Reconheço que seja difícil de concretizar tal inversão de paradigma, pois esta intencionalidade é proveitosa para as cadeias. A peça informativa é transmissora, nunca emissora.

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