A forma mais apaixonada ou mais desapaixonada com que abordamos cada assunto, não só influi na forma como os outros nos vêem, como também condiciona o modo como interagem connosco.
Aquele que pretender ser merecedor das atenções, sobretudo daquelas ditas genuínas, espontâneas e ávidas de curiosidade, deve ajustar o seu modus operandi de maneira a justificar esse possível estado de graça.
Melhor do que falar e ter quem escute é falar e ter quem queira escutar. Muitas das pessoas com que me cruzo na rua fala apaixonadamente sobre os aspectos maus da sua vida, a saúde, o emprego, o dinheiro, em particular a falta de cada um deles, mas peca por não encontrar e dedicar idêntica paixão na abordagem dos pontos positivos de suas vidas.
Esta questão da paixão com que cozinhamos o discurso, adquire especial importância se a considerarmos sob o ponto de vista dos requisitos para se poder ser considerado uma pessoa interessante. No meu entender está claro que a devoção aos assuntos importa bastante para o sentimento de interesse que o orador venha a induzir.
As palavras ditas com emoção são uma sedução, conseguem vender ideias e impressões mediante a criação de um impacto no receptor, que transcende o valor intrínseco daquilo que se esteja a comunicar. Tal como na sedução convencional, também aqui a paixão recomenda-se para um devido aprofundar e realçar de virtudes. Aquele que fala sem carimbar o seu discurso com alegria, vontade, proactividade, poderá ser ele próprio carimbado como triste, passivo, murcho. Tal como referi anteriormente, é de árdua concretização a distinção entre o que se diz e quem o diz, pelo que um discurso sem paixão, uma exposição desapaixonada, levará a que a própria pessoa não desperte interesse, a menos que se conheça bem a pessoa e haja razões pontuais para que uma dada exposição seja francamente desinteressante e desinspirada.