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Sobre o retorno a assuntos já abordados

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Quiçá por fantasia ou impressão despreocupada, a quem escreve pode eventualmente reinar uma sensação de que uma vez redigido certo facto, argumento ou opinião, naturalmente não se sentirá necessidade de reiterar o produto escrito, ou seja, que o tema fica à partida resolvido face ao sujeito que o enfrenta.
Suponho que possa ser da natureza emotiva da escrita que se volte aos temas, esquecendo o valor racional do que se produziu, estático do ponto de vista temporal. A verdade é que o emocional, por ser mais prendado no exigir do presente, acaba por sobrepor-se com frequência à solidez do valor lógico daquilo que fora dito, culminando numa nova exposição sobre o tema.
Note-se bem que falo do campo da escrita pessoal, não da leitura pessoal, pois aí o resgate de textos antigos nada tem que ver com o impulso de retornar a abordar um conteúdo já exposto.
Para quem escreve, ergue-se então um problema de memória: não ficar preso à repetição temática nem a uma mensagem desprovida de novidade e imprevisibilidade, isto a menos que se trate de uma consentida e intencional campanha.
O que o pensamento me devolveu, foi precisamente a noção de que posso ser acometido para a escrita com vista a aliviar um impulso pontual de escrever sobre um qualquer assunto, embora de cada vez que o faça sinta que o assunto ficou resolvido, desde que me contente com o produto do esforço de redacção.
Também no jornalismo, na política, na educação, no desporto, nas conversas do dia-a-dia ou no pensamento contínuo de cada um, este fenómeno é vulgar, perceptível na forma como se regressa às mesmas conversas, ideias, memórias, argumentos, assuntos, factos, opiniões, temas e perturbações, instigados por uma carga emotiva que ganha à frieza da teia lógica, que tudo faz para fingir definitiva uma incursão plena de redundância.

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