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Sobre o arranjar companhia e o deixar de estar só

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Arranjar companhia, do ponto de vista ideológico, é uma filosofia distinta daquela encontrada naqueles que querem é deixar de estar sós.
Aquele que está só e quer inverter a situação, parte para o mundo com uma motivação muito mais pragmática do que o indivíduo que sinta precisar arranjar uma companhia.
As relações humanas são matéria de tamanha sensibilidade que nos detalhes é que se resolvem e definem as coisas.
No meu entender, quem procura arranjar companhia sabe o que tem no momento e sabe o que quer e o quer passar a ter. Quem quer abandonar o estado de solidão sabe o que tem no momento, também, mas não sabe o que o quer, nem o que quer passar a ter, porque centra a sua mente na anulação da sua condição de só.
No dia em que escrevo, o mundo acordou com tantas possibilidades e tantas alternativas, que arranjar companhia é processo deixado para planos menores. Tanta ocupação, tanto assunto em que gastar o tempo, tantas metas por que correr, que arranjar companhia não é mais algo óbvio como o foi décadas atrás.
Aos poucos somos mais facilmente acometidos a deixar de estar sós do que a arranjar companhia. Queremos poder responder aos estímulos do mundo, às metas e desafios, mas chegar a casa ou ao telefone e ter um alguém que oiça, ampare, se ria do que se diga. Não mais falamos em arranhar companhia, porque essa é uma batalha adiada anteriormente que derivou para a batalha de não estar só.
Podemos deixar de estar sós encontrando alguém. Podemos trocar de alguém com maior ou menor frequência e assim nos sentirmos sempre com companhia, nem que diferente a cada vez. Outras vias têm de surgir para a consumação do arranjo de companhia, porque mais do que precisar de alguém que rompa com a solidão, aquele que quer companhia, procura por quem lutar, por quem surpreender, numa postura activa e genuína de interesse, talvez vagarosa, mas selectiva sem dúvida alguma. 

1 comentário:

  1. Numa primeira análise, a necessidade de se ter companhia é ditada pela irracional necessidade da continuidade da espécie humana. Os sexos inexoravelmente se atraem...ou atraíam! Era costume ser assim.
    Mas, entrando em campo toda a complexidade do ser humano, a força da natureza que nos empurra para a procriação é revestida de sentimentos, e o amor surge. E quando o amor acontece, existe uma enorme necessidade de buscar companhia, uma companhia específica.
    Quem apenas busca alguém, porque tem horror à solidão, não o faz por amor, evidentemente, mas apenas para preencher o vazio que a solidão lhe provoca.
    Quem ama, não tem, necessariamente, de se sentir só.
    Mas todos estes conceitos, os meus conceitos, vejo-os hoje entrarem em desequilíbrio.
    O mundo já não é tão são como o era há três décadas atrás.
    Cada vez mais os homens e as mulheres se procuram, empurrados pelo instinto animal da procriação...mas sem procriarem, que é uma coisa fantástica!
    E é quando são um homem e uma mulher a procurarem-se!!
    A mente humana está pervertida, perversa.
    Tenho muita pena que a busca pela companhia, ou a fuga à solidão, tenha deixado de ser inocente, natural.

    Um abraço caro Marcelo Melo

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