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Sobre o vício da novidade

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Em tempos onde a produção escasseava, onde não havia essa coisa das prateleiras cheias de produtos para venda, nenhuma outra opção se impunha que não a de resignação perante a ausência de novidades ou uma derivação da busca por novidades para outros campos que não os da comercialização de produtos.
Nos dias de hoje, bem como de forma ascensora no futuro, a busca pelas novidades, facilitada pelos pólos e galerias comerciais que conjugam diversidade com quantidade e até com preço reduzido, permitem ao ser humano desfrutar da sensação de saciedade e preenchimento com uma frequência elevada.
As crianças recebem e querem cordilheiras de brinquedos quer pela curiosidade quer pela alegria de posse, de ter propriedade sobre mais um objecto.
As pessoas ouvem músicas que não têm problemas em repetir-se, diferindo quase nada às vezes, partilhando o tema de acção, retratando coisas idênticas com variações mínimas, como se o importante fosse o ouvir sempre o novo, aquilo que apesar de já existir, é lançado novamente no mercado.
Os filmes nem sempre têm dignos motivos para ser lançados, pois acrescentam nada, mas ainda sim são visionados, o mesmo acontecendo com as novelas, que esgotam enredos por serem tantas, e que são literalmente devoradas pelas pessoas.
As livrarias estão repletas de autores que descobrem uma fórmula (ou será forma?) mágica de produzir obras em série, repetindo ganhos nessa busca desenfreada das pessoas por um novidade que só o é no acto de comprar o que é lançado no momento, mas que pouco ou nada tem de criativo para ser considerado novo a esse nível.
A monotonia do dia-a-dia cresce na mesma proporção em que se perde o pudor de chamar novo ao que é uma repetição, ao que só é novo por não ter estreado, mas que não resulta de inspiração superior àquela necessária para copiar ou que tem um grau de complexidade perfeitamente acessível a qualquer pessoa com tempo.

4 comentários:

  1. Concordo em genero e grau com o que disseste.Na vida estamos sempre procurando algo novo q nos satisfaça.E justo hj onde as ofertas e meios são inumeros parece q ja se perdeu o verdadeiro sentido da palavra 'novo'.Mudam-se as marcas, os logotipos, os nomes...mas a essência é a mesma.
    Hoje o 'novo' é 'reciclado'.

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  2. Obrigado por teres retribuido.
    Felicidades para ti e para o blog.

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  3. ...é aí que entra uma nova visão sobre o "ridiculo" ... antigamente o ridiculo (em termos de vestuario, arquitectura, design, penteados, musica etc etc) era posto de parte e todos se afastavam desse padrão a sete pés ... os tempos mudaram e para se estar na moda, é preciso ser-se diferente nem que para isso se vá buscar ao ridiculo a inspiração.
    Dizia-me um amigo meu que trabalha em artes graficas: - "já não se consegue inventar nada, já tudo foi inventado, agora só temos que mudar ligeiramente as coisas."
    FORÇ'AÍ!
    js de http://politicatsf.blogs.sapo.pt

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  4. Tudo é repetição e mudança simultaneamente.
    Na acção estará a revolução.
    _______

    Fora os chavões acho que transparece uma certa melancolia na contemplação da nossa "sociedade da abundância" que constitui apenas uma pequena parte da humanidade...


    Filipe T.

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