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Sobre a pornografia literária

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A estrondosa e avassaladora oferta que hoje se encontra no mercado livreiro, impõe um natural respeito, porque a comercialização de um livro estende-se muito para além do valor intrínseco da obra. Hoje há massificação de temas e há que ter bem presente que uma mesma coisa escrita por outro autor vale menos do que uma outra coisa escrita pelo mesmo autor.
O fenómeno literário que se vive hoje, perdoem-me por usar as palavras que vou usar, pode ser enquadrado numa certa forma de pornografia literária, que difunde a banalização do valor das produções, pela adulteração do sentido de singularidade, ou seja, pela forma como se desrespeita o que é conceber e delinear um livro, em detrimento de um sobrepovoamento de publicações nas prateleiras.
Como consequência dessa pornografia literária temos a explícita comercialização das obras como vector a considerar e até principal para a viabilidade de edição das mesmas. Aliás, diversos autores atingem uma profissionalização fácil devido a incorrerem na escrita mediática, totalmente voltada para o populismo e para o alcance da escala comercial.
A minha ambição de poder vir a escrever um livro, choca com estes conceitos, porque pego num livro para ler e penso no quão difícil possa ser chegar a um produto final, fechado, pronto. Imaginar a escrita de um livro como sendo algo não tão díspar quanto isso de um pegar num moldes e fazer réplicas sucessivas, não se me desmotiva como me aborrece e entristece. Há um esoterismo muito próprio que identifico no processo de conclusão de um livro, o qual não gostaria de ver perdido nem de ver chacinado da forma como as garras comerciais têm andado a fazer.
Hoje os nóbeis e notáveis do ponto de vista da matriz da Literatura, aqueles que serão estudados como cânones do nosso tempo, perdem espaço para pornógrafos literários que escrevem com cifrões e se refugiam neles para se afirmar como autores.

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