Luda in Kazan - Sinead Breslin (2023)
Do dizer popular "não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe" pode ser extraído que há uma perceção recorrente na sociedade centrada na ideia de que a impermanência de condição é mais uma regra do que uma exceção.
Na esfera das atividades humanas há pelo menos três fatores que isoladamente ou em série se perfilam para provocar impermanência aos processos. São eles: (i) a quebra da continuidade forçada pela duração de um ciclo de luz (ou seja, a alternância do dia e noite); (ii) a flutuação hormonal de cada ser humano, em especial das mulheres; (iii) e por fim os eventos climáticos, mormente estações do ano, mas também ocasionais vagas de frio, tempestades, chuvas, calor, etc.
Os três cambiantes acima identificados, à falta de outros ainda mais ajustados, perfilam-se sozinhos ou em conjunto para promover a impermanência das coisas, desde logo porque forçam à existência de ciclos, de reversibilidade, de cessação da repetição. Por outro lado, estes mesmos motores dão azo à casuística de possibilidades em que a realidade se transforma e nos surge já vestida de efemérides, isto como mecanismo na antecâmara da concretização da roupagem de vida na qual cada um está, caso a caso, inserido.
Creio ser também isto o que a astrologia tende a querer inferir a partir de modelos simplistas para algo tão massivo e não linear. Acertará a espaços, mas a sensação que dela fica é que, qual previsão meteorológica do tempo para os próximos dias num dado território, os modelos astrológicos são demasiado imperfeitos para a universalidade e alcance espaciotemporal preditivo que almejam ter.
Concluo confessando que a tomada de consciência de que a impermanência faz parte dos segredos da vida é em si mesmo um bálsamo de tranquilização. Mesmo não tendo mapas que nos guiem certeiramente para fora dos casos mais bicudos ou insólitos em que a impermanência nos coloca, pelo menos temos como subsistir psicologicamente à tona desses problemas, com a noção de que o jogo da vida parece naturalmente ser assim mesmo, e de que com doses reforçadas de resiliência e estoicismo tudo acabará por impermanecer e... passar.








